DESCRIÇÃO
Desde o nascimento, os adultos interagem com a criança através de comportamentos verbais e não-verbais e interpretam as suas respostas (Sim-Sim, Silva, & Nunes, 2008). Ao longo do tempo, a comunicação da criança torna-se intencional começando a utilizar a linguagem para transmitir as suas necessidades e sentimentos, para se relacionar e desenvolver, assim como, para ter acesso à informação e conhecimento (Sim-Sim, 1998).
A aquisição e desenvolvimento da linguagem resultam da interação da criança com o meio envolvente (Sim-Sim, 1998) e pressupõem a aprendizagem de regras especificas no que diz respeito à forma (fonologia e morfossintaxe), conteúdo (semântica) e uso (pragmática). A pragmática relaciona-se com aspetos funcionais, ou seja, estuda o conjunto de regras que explicam e regulam o uso intencional da língua em contextos situacionais e comunicativo (Acosta, Moreno, Ramos, Quintana, & Espino, 2003).
Aos 6 anos, as competências pragmáticas devem encontrar-se maioritariamente adquiridas, sendo ao longo da idade escolar aperfeiçoados aspetos verbais relacionados com as competências conversacionais, as funções comunicativas, a realização de inferências e a linguagem figurativa, bem como aspetos não-verbais, nomeadamente a atenção dada às expressões faciais e às características prosódicas do discurso (Airenti, 2017; American Speech-Language-Hearing Association, n.d .; Dewart & Summers, 1995; Marasco, Carol, Riddle, Sepka, & Weaver, 2004; Puyuelo, 2007; Silva, 2010; Siqueira & Lamprecht, 2007).
As Perturbações do Desenvolvimento da Linguagem (PDL) são um dos problemas de desenvolvimento mais comuns na infância (Muszkat & Mello, 2009) e encontram-se amplamente associadas a dificuldades de aprendizagem e a uma baixa autoestima (Ximenes & Martins, 2011).
Quando o domínio pragmático se encontra afetado, as crianças são mais propensas a apresentar dificuldades emocionais e comportamentais, evitando a interação com os pares e afastando-se de situações sociais que acabam por limitar a sua participação em importantes momentos de aprendizagem (Whitehouse, Line, Watt, & Bishop, 2009).
O Programa de Intervenção em Competências Pragmáticas – Idade escolar (PICP-E) – Quem muito fala, muito acerta. – é um programa de intervenção com foco no domínio pragmático, destinado a crianças em idade escolar e validado para o Português Europeu (PE). O seu desenvolvimento baseou-se em programas internacionais com evidência científica relativamente à sua eficácia (Adams et al., 2012; Parsons & Branagan, 2017; Rinaldi, 1995; Vernon, Shumaker, & Deshler, 1996; Winner & Crook, 2009) e pretende dar continuidade ao Programa de Intervenção em Competências Pragmáticas – Versão Pré-Escolar (Pereira, Ramalho, Lousada, & Machado, 2019) existente e validado para o PE.
O “Quem muito fala, muito acerta.” encontra-se divido em duas partes:
A. Competências Não-Verbais e B. Competências Verbais. Nas competências não-verbais são abordadas as expressões faciais e as características prosódicas do discurso, enquanto nas competências verbais estão incluídas funções comunicativas, competências de conversação, inferências e formas de linguagem figurada.
Cada atividade é composta por um conjunto de 6 a 12 itens apresentados em cartões individuais. Como forma de auxiliar o TF na aplicação e seleção das atividades, a cada atividade foi atribuída uma cor que se encontra representada nos cartões individuais dos itens que lhe dizem respeito. Nos cartões encontram-se redigidos o enunciado e as opções de resposta, contudo, dependendo das capacidades da criança, o TF pode optar por apresentar os itens de forma oral ou pedir à criança que faça a sua leitura. Algumas atividades incluem imagens ilustrativas como forma de apoio. Ao longo da intervenção, e tendo em conta as evoluções demonstradas pela criança, o TF pode optar por reduzir ou eliminar a utilização das ilustrações, aumentando assim a complexidade das tarefas. As atividades foram desenvolvidas para que possam ser realizadas de forma individual ou com pequenos grupos de crianças.